PERSONA

Veem-se diante dos mesmos espelhos...
Olham-se, veem-se nessa mesma multidão com indiferença.
Reflexos de uma sociedade, que caminha para o matadouro.
Invariavelmente vestem e tiram mascaras, com mesmo ritual,
Não opõem, e também não veem-se como individualidades...
Pois, os disfarces, os cantos, e os cárceres são os mesmos.
Daí só conjugarem os verbos ma primeira pessoa do singular.
E amplificam, intensificam o sons desses tablados, na suas vozes...
Com as mesmas ações coloquiais,direcionadas ouvem mesmo eco!
Os que já experimentaram antes de nós, só escreveram a receita.
Coro de vozes, que não tem voz, não o ouvimos,apenas escutamos
Vamos às mesmas clínicas, e dobramos mesmas esquinas iguais.
Massa humana hora aturdidas, inermes,  perdidas, enxovalhadas,,,
Horas sôfregos, pândegos,livres, correndo soltos mesmas estradas...
Horas semelha-se a homens maduros, virtuosos, criteriosos, morais.
Horas são recém-saídos de mesma infância, pulando no mesmo berço!
Paredes análogas de gradil idêntico,mesmas cancelas,mesmas prisões...
Dramas essenciais, e conclusivos, pessoais, a limitar as suas vidas.
Fartam-se do mesmo pão, mesmos circos, das mesmas fantasias!
Navegam as rotas dos mesmos alambiques, nas mesmas trajetórias!
Comendo, e bebendo das mesmas cachaças,vomitando mesmo porre.
Atravessam assim, a vida, velejam, e não escrevem suas histórias...
Atravessam suas esquinas,contam suas etapas, fazem aniversários...
Apagam com mesma vontade do ano passado as velinhas do bolo!
Interpretam, vivem as cenas que leem nas histórias em quadrinhos...
E querem ser heróis, vestem-se de super-homens,e mulher maravilha!
Levam a vida comendo do sais, das pimentas,que adjetivam seus gostos.
Bebem das águas de quaisquer poços, quaisquer bicas sem cerimônia!
Eternos coadjuvantes,querem o papel principal, serem reis e  rainhas...
Renunciam a própria pele, lixam a própria virtude,mas,pulam as pedras.
Teem identidade, mas, são idênticos!

Albérico Silva