ZÉS
ZÉS
Zé! Ipsi-litere a vida vos plagia e vos esnoba. E cose no barro puro as broas fartas Na boca de quem no céu são luas poucas E rejunta a figura tosca na pele seca e esquálida. Terra caiada na forma que a chita veste. Na paisagem, Zé, caliginosa deste seu Nordeste. Os espinhos agudos e infames, Zé! Que te sangram a sorte incerta, minguada e pouca. São os mesmos que te fantasiam na morte lenta. Êta! Cabra, que lida, que existência insossa e perversa. É tanta peste querendo a carne escassa. São tantas as promessas que te anulam no voto a riqueza. Cerceando-te a liberdade nessa trajetória e na escolha. Sei não, Zé, que sina! Represas, Mané! Na alma a agonia e o vexame. E no espírito, a dor dessas desdita e desse abandono. E singrando nos mares deste solo inerte, tosco amatutado. Cujas veias secas desse chão embrutecem a terra estéril. Buscas nas romarias, a crença que te santifique a devoção. E as chagas que se abrem no teu espectro opresso e te ferem. São teus acúleos, cristo Zé, é a cruz que tu padeces. Já absorto, tu exibes teus calos como troféus da tua peleja. E tua prole como façanha a alardear o cabra-macho. Mané - teimoso fiel nucaio brasileiro, que birra pondo-se de pé. Que faz da meizinha meiota da fuga na ilusão de vencer a fome. E nesta triste miragem, Zé, que te consome e te aniquila. Teu espelho friamente te espanta! É tu mesmo, Zé, os ossos que balançam. É tua vida que plagia outras vidas. Albérico Silva
AlbéricoCarvalho
Enviado por AlbéricoCarvalho em 18/07/2012
Alterado em 19/07/2012 |