LICENÇA POÉTICA Disse Fernando Pessoa, O poeta é um fingidor. Contudo, o que finge e como finge, Verdadeiramente o poeta? Quando escreve, decodifica seu poema. Quando deixa que entre as letras e as rimas, A emoção aflore e deflagre na alma, Na pele, nos poros o delírio que o arrebata. Derramando versos sentidos, Muitas vezes carpidos na própria experiência. O que finge o poeta, quando declama a fome, Se ele próprio a sente em cada estrofe. Como fingir a seca, se na pele esquálida, Tosca, deteriorada, os efeitos alarmantes são visíveis. O que finge mesmo o poeta? Quando em versos, Ele enaltece a mulher, a mãe, essa bela criatura humana. E quando ele declama sua própria genitora, A desfiar um rosário de valores, Que só ele conhece desde a infância. Como finge o poeta? Ao falar da infância, ao falar da criança, Ao falar em versos dessa beleza que espargi inocência. Como finge o poeta, ao declamar o amor, Ao versar sobre o outono, sobre a primavera! Sobre os encontros e os desencontros que a vida oferece. Como finge um poeta? Ao falar dos desmandos, Que aniquilam a criatura que validam, Que perpetuam ciclos horrendos de misérias! Como finge esse Poeta? Albérico Silva AlbéricoCarvalho
Enviado por AlbéricoCarvalho em 28/07/2012
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