POEMA
POEMA
O poema que eu ainda não escrevi. Está escrito nas nossas consciências! Fala dos amores não correspondidos. Fala dos sentimentos que amarfanham a alma. Dos prantos carpidos em silêncio, sentidos em solidão. Fala dos versos arremetidos das senzalas... Fala da subjugação do homem pelo homem, Fala dessa triste e abjeta realidade. Fala de abandono, da sede e do frio! E quer ser o perfume na rota dos desvalidos! A falar das fomes, do isolamento por se sentir e estar sozinho, E por não ter tido a dádiva do peito materno. A poesia que eu não escrevi, É escrita todos os dias nas sinaleiras... Meninos e meninas sem bússola! Fala dos preconceitos escancarados, camuflados! Fala dos ressentimentos e dos temores, Fala das dores que maceram rudemente na alma, E que são entalhadas na indiferença e no descaso. Festeja a mãe e a mulher, na sua plenitude. Fala das longas noites de seres debaixo das marquises, e dos seus transes... Fala da troca de sexo pelo pão que mitiga a fome. A poesia que eu não escrevi, está grafada no peito. Insurgidas cicatrizes a querer irromper sem ressalvas! Perpassa pelas trajetórias execráveis do aborto. Fala do desamparo de seres idosos! Quer ser a caridade que acolhe o ser humano. Visita o submundo dos guetos, dos becos e das favelas... Fala da vergonha na alma de quem vê uma criança com fome! A poesia que eu não escrevi são verdades prementes sem metáforas, Pretende ser um canto de alerta pedindo socorro! O poema que não escrevi, é uma ilha em mim mesmo. Albérico Silva
AlbéricoCarvalho
Enviado por AlbéricoCarvalho em 21/02/2013
Alterado em 21/02/2013 |