SERTANEJOS
SERTANEJOS
A onde posso levar meus passos, sem ser testemunha ocular dessas misérias! Sem me vestir, contudo com as mesmas fantasias da indiferença como fazem alguns. Para qualquer lado que eu olho, vejo seres humanos esmolando vida, e apreço. Magoada romaria, homens e mulheres que mais parecem espantalhos! Doem-me ver as bocas secas escancaradas, olhares tristes de crianças com fome. E as mãos esquálidas, abandonadas, em atitudes de súplicas, dos mais velhos! A que pretexto escrever meus versos, dar vazão à minha poesia, Se elas se perdem nessas terras secas, chagas abertas a exibir suas veias brutas! Soam-me apenas como versos mudos, estéreis, desalentados e tristes... Sem força para mudar esse inglório presépio de lástimas e crucificações! Apenas reforçam esses desvairos diante de minhas fantasias, Argamassas que robustecem as minhas metáforas! Vejo uma fila imensa dessa gente, acabrunhadas, marchando como gado. Criaturas decaídas, pobres miseráveis, desorientados, sem uma manjedoura. Pari as sementes do ventre, por milagre, a fazer alarde de triste realidade! Enquanto o apetite reclama as fomes que lhe massacram a carne. São dessas poesias que se fartam os homens! Albérico Silva
AlbéricoCarvalho
Enviado por AlbéricoCarvalho em 24/02/2013
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