VIAGEM
Os gados se escoravam, se roçavam, se dando, doando apoio.
De receio de despencarem, de caírem, e de não mais se levantarem. Outros, não tiveram igual expediente, e com a pele colada no corpo, Ossos dançando, deitados, lesos, sobre o prato esperavam a hora. Árvores, semidespidas, braços retorcidos, como ferros de esculturas, Nesta paisagem, de barro, adereços de poeira e medo formando nuvens... Volviam a cabeça, fronte adelgaça, brandia para o céu, exoravam apoio. Mais parecia imensa romaria, dessas vidas sentindo, o mesmo na pele. Tudo era lacônico, e célere, e triste no cenário excessivo dessa viagem! Menos o suplício, esse agouro, do gado, dos seus donos, aberto arroste, Em face das aves de rapina, que em festa, apostavam na loteria. Do que seria o banquete, desse prato, de desditas, vaticinavam a sorte... A terra, veias grossas, fendas expostas,gemiam, imploravam apoio. Gritavam, diante do quadro desse alvoroço, mais uma vida na enxovia, Que libertava-se dessa sina, dessa triste agonia, nessas viagens! Para deleite das aves que se precipitavam sobre o banquete. Albérico Silva
AlbéricoCarvalho
Enviado por AlbéricoCarvalho em 12/10/2014
Alterado em 12/10/2014 |